1.01.2006

A MELHOR FAMÍLIA DO MUNDO
O Natal e a virada do ano são, para mim, datas sagradas. Por uma obrigação imposta por mim mesmo, tenho que passar essas datas junto à minha família. É uma necessidade, talvez.
Lembro das festas de antigamente, em que todos meus tios, tias, primas e primos se reuniam na casa do meu tio Adão, que hoje é cego e passa os seus reveillons, geralmente, na praia. Depois, as festas de fim de ano passaram a ser na casa da minha avó, mas como a família aumentava, pois começaram a nascer os filhos dos primos e das primas, mais uma tia, a Tereza, separou-se do rebanho natalino, passando a realizar festas em sua casa praiana, com seu marido, filhos e netos; festas esssas, mais calmas, mais silenciosas e com mais apelo religioso. A caçula dessa minha tia tornou-se evangélica fervorosa, depois de seu casamento.
Agora, nossas celebrações de Natal e Ano Novo são alternadas entre a casa dos meus pais e a dos meus padrinhos, sempre, é claro, com a presença da minha avó, mãe de minha mãe. Nossas festas, que antes reuniam cerca de 40 pessoas, hoje se resume a no máximo 15. Os presentes de natal, que antes demoravam cerca de uma hora para serem entregues à todos, hoje demoram poucos minutos. À meia noite do novo ano, antigamente, era quase impossível lembrar de abraçar e desejar votos de felicidade à todos da festa. Hoje, abraço, beijo e desejo sorte, saúde e sucesso à todos tão rápido, que o ponteiro do relógio nem chega a mudar para a meia noite e um.
Mas não por isso, nossas festas são chatas, rotineiras ou monótonas. Pelo contrário. Ouvimos músicas, preparamos um banquete, usufruimos de um grande buffet de sobremesas, conversamos, rimos, rezamos o Pai Nosso de mãos dadas, nos abraçamos, nos beijamos, lembramos de outros momentos da vida e constatamos que, aconteça o que acontecer, esse grupo maravilhoso de pessoas está sempre unido. Seja nas festas de final de ano, seja na sala de espera de um hospital, esperando uma nova integrante da família, seja nas rodas de chimarrão dos domingos à tarde, seja no consultório de um médico, quando alguém está doente ou nos aniversários.
Impossível, também, não lembrar de fatos marcantes, que veem à minha mente rapidamente, como reflexos, como uma festa de virada de ano que se transformou em choro coletivo e desespero, em virtude de uma prima, que tinha tentato o suicídio. Hoje ela está casada e tem até filho. Ou em 1995, quando a alegria natalina deu lugar à tristeza quando os médicos disseram que uma pessoa muito amada da família estava com uma doença gravíssima. Hoje, ela está bem e tem até um sítio. Lembro também da minha mãe montando o presépio ao som da música 'Então é Natal', chorando, nesse mesmo ano. Lembro da minha vó, que sempre chorava de saudades do meu falecido avô antes dos abraços da virada. Creio que ela ainda chora até hoje, mas com maior discrição. Nos Natais, sempre lembro da mãe do meu padrinho, que era pra mim, uma terceira avó. Ela fazia aniversário no dia 24 e hoje não está mais entre nós. Também vem à minha mente uma passagem de ano em que meu pai resolveu ficar em casa, dormindo, e não nos acompanhou à casa da minha madrinha. Acreditem, mas até hoje não entendi por que ele fez isso.
É por isso a minha necessidade em estar junto de quem gosto nessas datas. Entre passar o reveillon na praia de Copacabana, vendo os fogos, ou entrar o ano numa praia do nordeste, molhando os pés nas mornas e calmas águas do mar, ou ainda esperar o Papai Noel em um clube com altas gatas ao redor, prefiro estar aqui, em casa, conversando com as mesmas pessoas, comendo feito louco as delícias da mesa, ouvindo as memas músicas, me empanturrando de sobremesa, rezando a oração do Pai Nosso, enrolando lentilha no dinheiro e abraçando as pessoas que eu amo. Mãe, pai, irmão, avó, padrinhos, primas e primos... Minha família... A melhor família do mundo!

Um comentário:

Fernanda Souza disse...

Que bonito! Pois esse ano decidi justamente o contrário: que não quero mais passar com a minha família, pelo menos o réveillon!