9.27.2006

REINVENTAR O CIRCO ASSIM É MUITO FÁCIL!

Há dias estou querendo comentar a vinda do renomado Cirque du Soleil para o Brasil, mas ainda não tinha em mente as palavras certas que gostaria de escrever. Mas ontem, ao assistir uma reportagem do Jornal da Globo sobre a "reinvenção do circo", me considero apto a opinar sobre o tema.

O Jornal da Globo foi completamente infeliz com a reportagem, pois deixou claro que o circo só existe nos dias de hoje graças à companhias como o Soleil e ao novo e pouco falado Circo Roda Brasil, que está armado no Memorial da América Latina, na Barra Funda, em São Paulo. O telejornal só ocultou alguns PEQUENOS detalhes: O Soleil nasceu no Canadá, recebe dinheiro do governo, cobra ingressos em dólar e trabalha para um público rico e culto. Tanto é que, para a companhia vir ao Brasil, o Ministério da Cultura precisou desembolsar R$9.000.000,00. Sabe o que é isso? Isso é nove milhões de reais!!! E os canadenses queriam mais 6 milhões para a turnê no Rio de Janeiro. E o preço dos ingressos? O mais barato, aquele que esgotou logo na primeira semana de vendas custava R$150,oo.

Bom, deixemos o Soleil de lado, e vamos para o segundo caso, o Roda Brasil, coordenado pelo ator de TEATRO Hugo Possolo. Sem dúvidas, Possolo é um ator talentoso, mas não é um circense. Fiquei espantado ontem, quando o vi sendo entrevistado, e mais do que isso, sendo alçado ao posto de responsável pela sobrevivência do circo.

Com todo respeito, ele não reinventou o circo. Nem ele nem o pessoal do Soleil. Eles apenas misturaram a arte circense com o teatro e assim, conseguiram tirar a essência do circo. O Roda Brasil não depende de bilheteria, pois têm grandes patrocinadores. A sua lona não foi adquirida com o sacrifício pelo qual todos donos de circos brasileiros passam para poder adquirir seus materiais.

Se a reportagem era sobre circo, quem deveria ter sido entrevistado era Orlando Orfei, que há 85 anos vive sob uma lona, ou Beto Carrero, que mantém vários circo percorrendo o território nacional, ou ainda Marlene Querubim, que realmente inovou com os espetáculos do Circo Spacial, mas não arrancou dos espetáculos aquele conceito de circo que todas as pessoas tem na mente.

Circo, para ser circo, precisa ser circo!

O Jornal da Globo também citou que os espetáculos modernos não têm nem animais, nem locutor. O Le Cirque, por exemplo, é, talvez, o circo brasileiro com o espetáculo mais moderno. Seus espetáculos contam com um show de luzes que valem o ingresso pago na bilheteria e nem por isso, tiraram os animais do picadeiro. Elefantes, camelos, cavalos, girafas e até um rinoceronte branco são apresentados. Marcos Frota e Spacial tiraram animais do picadeiro, mas mantêm a tradição do espetáculo com locutor.

Modernizar, sim! Mas tirar a essência do circo, não!

E, para finalizar, uma pergunta? Por que o governo desembolsou uma quantia gigantesca para trazer ao Brasil um circo estrangeiro e não incentiva os circos genuinamente brasileiros? Será que o erro não está nos próprios circenses, que não pensam no circo como uma empresa? Será que o erro não está nos donod de circos, que formam uma classe completamente desunida?

As perguntam são muitas, mas a única certeza é a de que reinventar o circo com o bolso cheio de dinheiro é muito, muito fácil!