1.30.2006

O Mundo virou de cabeça para baixo!

Acabo de ler a revista Época desta semana. E adivinhe quem está na capa: Bruna Surfistinha! Isso mesmo. A revista da editora Globo não está preocupada com os temporais que mataram Brasil a fora, nem com a crise política, tampouco com o surto de dengue que apareceu em Fortaleza. O importante é glomourizar a dona Bruna. A revista traz dados importantes para quem deseja entrar na 'profissão da moça', como um quadro comparativo entre os salários, os investimentos e o tempo gasto em preparação entre uma diarista, uma dentista, uma diretora executiva e uma prostituta de luxo. Pobre diarista, tem rendimento médio mensal de R$800,00, com seu trabalho honesto e esforçado. A dentista estuda em média cinco anos, tem um alto investimento entre os estudos, os equipamentos e o aluguel de consultório, e recebe por volta dos R$5.000,00. A diretora executiva leva em média de 15 a 20 anos para ter esse status e ganhar (nas grandes empresas) até R$20.000,00 mensais. Já a prostituta... quer dizer, a provedora de prazeres carnais de luxo pode chegar ao mesmo rendimento mensal que uma diretora executiva, já que seus programas chegam a R$700,00.

A revista ainda traz dados importantes: Bruna Surfistinha transou com 1.200 homens e já vendeu 80 mil exemplares de seu livro! Traz relatos de pessoas que elogiam seu livro e (pasmem!) ainda um teste para saber se voce sabe tudo sobre Bruna Surfistinha! Parece brincadeira. Época parece ter perdido o rumo jornalístico após a troca do seu diretor de redação, que aconteceu há duas semanas. As colunas mais saborosas de ler foram extintas e já estou pensando em mudar a assinatura para Isto É (talvez a mais imparcias das revistas semanais).

Bom, mas não só pelo fato de Bruna Surfistinha ser um fenômeno e estar virando ídolo nacional e da revista Época, que era ótima estar caindo de qualidade que o mundo está virando de cabeça para baixo. No Rio de Janeiro, 12 pessoas morreram na última sexta. Por causa da guerra do tráfico? Não. Com balas perdidas? Não. Por causa de um assalto? Também não. Morreram afogadas. E dentro do estacionamento de um shopping! Os temporais, as enchentes e outros elementos que mostram a fúria da natureza estão cada vez mais freqüentes e matando cada vez mais pessoas. Uma mulher jogou a própria filha de dois meses na Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte. A criança foi encontrada dentro de um saco de lixo, boiando na lagoa e já com sinais de afogamento. Isso nem pode se chamar de mãe. Isso é um monstro! O frio em países da Europa está matando assombrosamente e os tetos das casas estão se rompendo, tamanho é o peso da neve. Um motorista embriagado atropelou e matou 4 pessoas no Ceará; um acidente entre Minas e Goías matou 11 pessoas nessa madrugada; dois ônibus da mesma empresa se chocaram devido a uma ultrapassagem proibida e perigosa, matando 32 pessoas... A imprudência no trânsito faz cada vez mais vítimas. E por aí vai...

Enquanto isso, as rodas de conversa nas filas de banco, na padaria, no barbeiro está mais preocupada com quem vai ir para o peredão do BBB. Quem será que vai sair? O gordinho feio e pobre ou o fortão sarado que já 'pegou' duas gatas dentro da casa? Muito está se falando também no Romário que fez 40 anos e está em busca do milésimo gol. E mais pra frente, só se ouvirá falar em Copa do Mundo. Cruz credo!

Vendo tantas coisas cruéis acontecendo, chego à conclusão de que a Bruna Surfistinha precisa ser urgentemente alçada à condição de santa. Ela nem fez tanto mal assim para a humanidade. E, do jeito que as coisas estão, daqui uns dias, a mãe que jogou sua filha na lagoa, será capa da revista Época com o título: A mãe dos tempos modernos. E o sub título: Aprenda a ser como ela!

***

Um grande acontecimento: Quero parabenizar minha grande amiga Fernanda Souza da Silva pela sua formatura no curso de jornalismo pela Unisinos, no último dia 27. Foram anos de estudo, esforço e dedicação, mas que valeram a pena. Hoje, ela já é uma grande jornalista do Grupo RBS. À você, Fernanda, todo o sucesso do mundo! Voce é um exemplo de que no mundo ainda existe gente do bem. É muito bom ser seu amigo.

***

Deu no Jornal: A oposição está tentando desgastar o governo Lula de todas as maneiras possíveis. Agora, querem um salário mínimo de R$400,00. Lembre-se de que Lula prometeu em sua campanha um salário mínimo de U$100,00; o que seria hoje em torno de R$230,00. Quando Lula assumiu, o salário mínimo era de R$200,00. A hipocrisia na política é tanta que chega a dar raiva. Ver o ACM Neto pregando justiça é tão ridículo quanto Bruna Surfistinha condenar a prostituição. Será que já está esqucido tudo de ruim que seu avô fez? ACM é a escória da política. Por que o PFL não foi tão bonzinho assim quando estava no governo, ao lado de FHC, que quando assumiu o governo encontrou um salário mínimo de R$100,00 e entregou com R$200,00; oito anos depois?

***

Merece Aplauso: Mesmo que não tenha sido por vontade própria e sim por pressão da mídia, a diminuição do recesso parlamentar e o cancelamento do pagamento extra aos deputados e senadores foi uma grande passo a favor do povo. Merece aplauso!

Merece Vaia: A candidatura do Governador Rigotto à Presidência da República. Será que ele pretende repetir em plano nacional a péssiam administração que realizou no Estado? Pobre brasileiros!

1.19.2006

Merece Aplauso: A novela Belíssima. Tem uma história intrigante, ótimos atores e atrizes e prende o telespectador. São tantos mistérios, tantas tramas que cada capítulo parece ser o penúltimo. Salve Sílvio de Abreu!

Merece Vaias: O Big Brother Brasil 6. Eta programinha ridículo. Será que os telespectadores ainda acham que ali naquela casa nada é combinado? Ah, por favor! Inclui na lista o Casamento à Moda Antiga, que também é um show de inutilidades.
Vale a pena ser bom?
Vejam só! A vida de Bruna Surfistinha vai virar filme! Para quem não sabe, Bruna Surfistinha, quando criança vivia em um orfanato e teve a sorte de ser adotada por uma boa família de classe média alta, mas, aos 14 anos entrou para o mundo das drogas e começou a roubar seus pais para manter o vício. Aos 17, fugiu de casa e tornou-se prostituta. Pouco tempo depois, descontente por ter que pagar comissão ao cafetão, tornou-se empresária de si mesmo e passou a agenciar seus próprios programas, dobrando o valor do cachê. Tornou-se famosa por relatar detalhes por detalhes seus programas em um blog na internet. Em um de seus programas, fisgou o coração de um rico empresário, que, para se casar com a moça, deixou para trás a mulher e dois filhos. Agora, aos 21 anos, Bruna decidiu se aposentar e escrever um livro. Resumindo: Em quatro anos de "trabalho", Bruna Surfistinha juntou cem mil reais na poupança, comprou apartamento e carro do ano, arranjou um casamento com um empresário, seu livro já é um dos mais vendidos e com certeza, seu filme será um sucesso. Carreira promissora, a da moça!
Não sou ninguém para julgá-la, mas, do ponto de vista ético, moral ou religioso, essa mulher fez muitas coisas erradas. Furtou, se drogou, vendeu o corpo, traiu centenas (ou milhares?) de mulheres, esposas de clientes, e dilacerou uma família, a do empresário. Mas ela está sob os holofotes. Tem espaço na mídia, dá entrevista em vários programas de televisão, e está tendo sucesso.
Suzane Von Hichthofen planejou o assassinato dos próprios pais. Seu namorado executou o plano, em companhia do irmão, enquanto os pais de Suzane dormiam. Com o maior sangue frio, Suzane e o namorado foram "comemorar" a morte dos pais em um motel. A garota foi presa, perdoada pelos familiares e hoje está usufruindo da liberdade.
Wilma Martins roubou da maternidade duas crianças. Provocou a desgraça de duas famílias, que, por anos, viveram a angústia provocada pela incerteza. Foi um monstro na vida dessas pessoas. Foi presa, mas no último domingo, recebeu um presente de um juíz, que permitiu que a ladra de crianças cumprisse a pena em regime semi aberto. Em breve, estará completamente solta, e livre para cometer mais crimes.
Agora vamos ver o lado de uma pessoa que nasce em uma família pobre, estuda em uma escola pública, sofre para conseguir vaga em uma universidade federal (se é que chega na universidade), sofre ainda mais para conseguir um emprego, sofre ao ver o salário (geralmente baixo, que mal dá para as contas), e sofre eternamente ao ver a vida patinar, patinar e patinar. Morre sofrendo, por ver os filhos repetindo a mesma história...
O mundo de hoje tornou-se uma incrível banalidade. São aplaudidos pessoas como a Surfistinha, como os BBBs, como os políticos que trocam dentaduras por votos. Há poucos meses, Roberto Jéferson, um dos mais bandidos e corruptos políticos brasileiro, quase foi alçado a herói nacional. O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, é um assassino, mas é o homem mais poderoso do mundo. Fernandinho Beira Mar, apesar de preso, continua mandando e desmandando, lucrando e tirando vidas.
Analisando tudo isso, me pergunto qual é a lógica do mundo? Qual é o sentido da vida? Se é que existe justiça divina, ela deve estar passando por um tempo de recesso.

1.11.2006

Eu me arrependo...

Se arrependimento matasse, há muito tempo já estaria no mundo das almas penadas, pois me arrependo de tudo, ou quase tudo, que fiz e deixei de fazer. Hoje, chego à melancólica conclusão de que nesses primeiros 25 anos de vida, contruí para meu futuro um alicerce que não aguentaria nem um casebre de dois cômodos, e que nada fiz de legal e bom, nem para mim e nem para os outros. Não estou dizendo que minha vida seja uma infeliz injustiça, ou muito menos um triste calvário. Não, nada disso. A vida me é muito boa e me deu grandes oportunidades. Estou falando de decisões que tomei, de coisas que deixei para trás, de pessoas que não dei o valor merecido, de objetos que deixei de comprar, de amigos que não percebi...

Me arrependo de, quando criança, não ter aproveitado mais meus brinquedos, não ter montado mais meu ferrorama, apenas para ver o trenzinho andar.

Me arrependo de ter abandonado minhas aulas de natação e musculação. Se tivesse prosseguido, hoje não seria esse gordo sedentário, e sim um cara sarado, praticante de esportes e talvez, muito cobiçado pelas mulheres.

Me arrependo de, na hora H para a inscrição do vestibular, ter mudado de opinião e escolhido matemática e não jornalismo, como era o meu plano inicial. Talvez, eu não teria abandonado o curso no terceiro semestre, por achar difícil demais, caro demais e sem futuro nenhum...

Me arrependo por ter sido sempre tão apaixonado, sempre tão romantico, tão carinhoso, por ter dado flores, escrever cartas, por se declarar. De nada adiantou. Me arrependo de ter me apaixonado pelas mulheres que me apaixonei. Elas não mereciam.

Me arrependo de ter pedido para sair do Circo do Marcos Frota e seguir em busca de um novo desafio, que seria gerenciar meu próprio circo. Eu estava no topo da minha carreira profissional e no auge da minha satisfação pessoal. Tinha o emprego que pedi à Deus, estava realizando o meu único sonho de vida, ganhava um gordo salário, tinha duas concessões de vendas dentro do circo, me relacionava muito bem com os colegas artistas e com a gerência, fiz amizades com atores da Rede Globo de televisão, estava sob os holofotes e tinha a admiração das mulheres, era cobiçado e desejado por elas (só porque era o mágico do Marcos Frota e o locutor que entrevistava os atores da TV, mas tudo bem, pelo menos era desejado), estava viajando pelo Brasil inteiro, conhecendo cidades, pessoas, culturas e praias, além de ter adquirido em tão pouco tempo um trailer Karmann Guia 740 (um dos maiores e mais luxuosos fabricados por esta empresa) e novos aparelhos de magia (aperfeiçoando, assim, meu trabalho). Para completar esse kit de felicidade, ainda havia perdido 15 quilos e estava esbelto... Ou melhor, quase esbelto.

Sem uma razão óbvia, eu renunciei à tudo isso. Por que eu abri mão da minha felicidade? Passo as noites em busca dessa resposta, tentando achar o que me fez querer sair do circo. O que me passou pela cabeça? O que me fez achar que eu poderia ser ainda mais feliz? Por que eu não fiquei quieto ali no circo, fazendo a minha magia e apresentando o espetáculo? Não sei. Não sei...

A verdade, a única verdade é que eu joguei fora a única oportunidade da minha vida. Mais do que isso, joguei fora a minha felicidade, o meu plano de existência. Tudo o que eu queria era ter uma família, morando no circo. E o circo de Marcos Frota era o lugar certo para isso. Ter saído de lá é o meu mais devastador arrependimento.

Ah, mas continuando a história, depois que eu cometi esse assassinato contra a minha felicidade, eu montei o meu circo sim, em sociedade com o gerente do circo do Marcos Frota. E esse foi o meu mais recente arrependimento. Foram nove meses de trabalho até a estréia do circo. Um investimento de quase 25 mil reais para que o material (lona, ferragens, carretas) fossem todos pintados e arrumados. Contratei os melhores artistas, que vieram de grandes circos, todos, confiando no meu potencial. O meu circo foi um fracasso. Fechei as portas, ou melhor, as cortinas. Junto com elas, se fecharam minhas possibilidades. Acarretei uma dívida de 36 mil reais, cuja maior parte ainda preciso pagar. Fiquei sem credibilidade, perdi o luxuoso trailer que havia comprado, caí no abismo. É isso mesmo, não foi nem poço, foi abismo!

Hoje, daria tudo para que o tempo voltasse. Mas, infelizmente, ele não volta.

1.01.2006

A MELHOR FAMÍLIA DO MUNDO
O Natal e a virada do ano são, para mim, datas sagradas. Por uma obrigação imposta por mim mesmo, tenho que passar essas datas junto à minha família. É uma necessidade, talvez.
Lembro das festas de antigamente, em que todos meus tios, tias, primas e primos se reuniam na casa do meu tio Adão, que hoje é cego e passa os seus reveillons, geralmente, na praia. Depois, as festas de fim de ano passaram a ser na casa da minha avó, mas como a família aumentava, pois começaram a nascer os filhos dos primos e das primas, mais uma tia, a Tereza, separou-se do rebanho natalino, passando a realizar festas em sua casa praiana, com seu marido, filhos e netos; festas esssas, mais calmas, mais silenciosas e com mais apelo religioso. A caçula dessa minha tia tornou-se evangélica fervorosa, depois de seu casamento.
Agora, nossas celebrações de Natal e Ano Novo são alternadas entre a casa dos meus pais e a dos meus padrinhos, sempre, é claro, com a presença da minha avó, mãe de minha mãe. Nossas festas, que antes reuniam cerca de 40 pessoas, hoje se resume a no máximo 15. Os presentes de natal, que antes demoravam cerca de uma hora para serem entregues à todos, hoje demoram poucos minutos. À meia noite do novo ano, antigamente, era quase impossível lembrar de abraçar e desejar votos de felicidade à todos da festa. Hoje, abraço, beijo e desejo sorte, saúde e sucesso à todos tão rápido, que o ponteiro do relógio nem chega a mudar para a meia noite e um.
Mas não por isso, nossas festas são chatas, rotineiras ou monótonas. Pelo contrário. Ouvimos músicas, preparamos um banquete, usufruimos de um grande buffet de sobremesas, conversamos, rimos, rezamos o Pai Nosso de mãos dadas, nos abraçamos, nos beijamos, lembramos de outros momentos da vida e constatamos que, aconteça o que acontecer, esse grupo maravilhoso de pessoas está sempre unido. Seja nas festas de final de ano, seja na sala de espera de um hospital, esperando uma nova integrante da família, seja nas rodas de chimarrão dos domingos à tarde, seja no consultório de um médico, quando alguém está doente ou nos aniversários.
Impossível, também, não lembrar de fatos marcantes, que veem à minha mente rapidamente, como reflexos, como uma festa de virada de ano que se transformou em choro coletivo e desespero, em virtude de uma prima, que tinha tentato o suicídio. Hoje ela está casada e tem até filho. Ou em 1995, quando a alegria natalina deu lugar à tristeza quando os médicos disseram que uma pessoa muito amada da família estava com uma doença gravíssima. Hoje, ela está bem e tem até um sítio. Lembro também da minha mãe montando o presépio ao som da música 'Então é Natal', chorando, nesse mesmo ano. Lembro da minha vó, que sempre chorava de saudades do meu falecido avô antes dos abraços da virada. Creio que ela ainda chora até hoje, mas com maior discrição. Nos Natais, sempre lembro da mãe do meu padrinho, que era pra mim, uma terceira avó. Ela fazia aniversário no dia 24 e hoje não está mais entre nós. Também vem à minha mente uma passagem de ano em que meu pai resolveu ficar em casa, dormindo, e não nos acompanhou à casa da minha madrinha. Acreditem, mas até hoje não entendi por que ele fez isso.
É por isso a minha necessidade em estar junto de quem gosto nessas datas. Entre passar o reveillon na praia de Copacabana, vendo os fogos, ou entrar o ano numa praia do nordeste, molhando os pés nas mornas e calmas águas do mar, ou ainda esperar o Papai Noel em um clube com altas gatas ao redor, prefiro estar aqui, em casa, conversando com as mesmas pessoas, comendo feito louco as delícias da mesa, ouvindo as memas músicas, me empanturrando de sobremesa, rezando a oração do Pai Nosso, enrolando lentilha no dinheiro e abraçando as pessoas que eu amo. Mãe, pai, irmão, avó, padrinhos, primas e primos... Minha família... A melhor família do mundo!